Desejavamos que a celebração do nosso último grande naufrágio português não tivesse ocorrido em 1580.
Durante a nossa história quase milenar, só por uma vez, mas foram 60 anos duros de ocupação espanhola, fomos menorizados na nossa crença patriótica.
O 1º Dezembro de 1640 foi o eclodir de vários acontecimentos na Europa, e em especial em Espanha, que proporcionaram aos portugueses recuperarem a sua dignidade.
As revoltas na Catalunha, na Flandres e as guerras contra a Inglaterra, começavam a debilitar o poderio espanhol na Europa. E Portugal aproveitou-se dessa situação geopolítica para preparar a sua restauração como Estado soberano.
Após um reinado equilibrado de D. Filipe I de Portugal (D. Filipe II de Espanha), que respeitou a autonomia das instituições portuguesas, modernizando a administração pública e reformando os tribunais, foram razões que pacificaram as relações entre portugueses e espanhóis.
Porém, os seus sucessores em tudo foram distintos. Substituiram as chefias das instituições portuguesas por funcionários espanhóis, aumentaram a carga fiscal para financiarem as suas guerras e muitos nobres lusos para manterem os seus bens tiveram que se alistar no exército espanhol.
Os territórios ultramarinos portugueses eram desprezados pelos novos monarcas, que eram atacados constantemente por holandeses e franceses, no Brasil, em África e no Oriente, o que levou Portugal a perder a supremacia do comércio com a Ásia.
Com a dinastia dos Filipes inicia-se a decandência dos descobrimentos portugueses e o seu apagamento como grande potência geopolítica.
Todos estes factores, aliados à humilhação que Espanha causava a Portugal, permitiu que os 40 conjurados deposessem do poder os representantes de D. Filipe III, e aclamassem D. João IV como o novo soberano português.
É claro que para além do poderio militar, económico e diplomático de Espanha, a alta nobreza portuguesa foi um precioso aliado dos Filipes, preferindo o dinheiro espanhol ao patriotismo.
A antítese entre povo e nobreza durante o domínio espanhol em Portugal (1580-1640), foi exemplificado com a morte do traidor Miguel de Vasconcelos e secretario da Vice-Rainha Margarida de Sabóia, duquesa de Mantúa, fosse desfrenestrado pelo povo de Lisboa no Terreiro do Paço.
Ao despauperado Portugal valeu-lhe que Espanha estava mais preocupada com as revoltas na Catalunha, adiando a questão lusa para mais tarde, porém como a História testemunha sem êxito para as hostes espanholas. Só 28 anos depois é que foi assinado o Tratado de Lisboa findando assim a guerra da restauração da independência portuguesa.
Adquirida de novo a independência, e graças aos esforços para reconquistar os territórios ultramarinos perdidos para os rivais europeus, e com a valentia tenaz dos portugueses permitiu que alguns desses territórios voltassem para a coroa portuguesa.
Contudo, a partir de 1640 o paradoxo surgiu. Apesar de restaurada a sua independência nacional em termos oficiais, no entanto o naufrágio português, o naufrágio da alma portuguesa se evidenciou mais claramente.
A partir desse momento, o Portugal da coragem, o Portugal de dar “novos mundos ao mundo” esfumou-se no tempo.
Agora, em vez de seguir o seu rumo como verdadeira nação, pequena na sua dimensão territórial, mas enorme nos valores que transmitiu à humanidade, contenta-se agora com o seu estado mental de protectorado.
Se as alianças estratégicas ou militares fazem parte do ADN da nação portuguesa, e a História é testemunha que esses acordos eram tão complexos e voláteis.
Os nossos governantes de hoje sentem-se muito bem no papel de submissos de outros interesses.
Começamos com os ingleses, esses velhos aliados tão inconstantes. Aliás, o Tratado de Windsor de 1386 estabelecido entre Portugueses e Ingleses, celebrado após a vitória na famosa Batalha de Aljubarrota, que confere a essa aliança diplomática e militar como a mais antiga do mundo que está em vigor.
Depois passamos para uma aliança com a inevitável Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), encabeçada pelos Estados Unidos, que permitiu a Portugal conservar por algunas décadas os seus territórios ultramarinos em África e no Oriente.
Por fim, com a adesão à Comunidade Económica Europeia fortaleceu a jovem democracia portuguesa, e ajudou bastante no desenvolvimento económico e social do país.
No entanto, a entrada nesse “clube selecto” fez menosprezar a sua relação com a sua alma histórica.
O Portugal europeu saído da longa ditadura que o consumiu, não compreendeu mais uma vez a importância que esta Lusitânia adormecida ainda pode ter no mundo.
A dependência que Portugal tem da União Europeia, é em muitos aspectos asfixiante.
O directório desta confederação que está passito a passito a incutir e cominar com um federalismo europeu, que vai cada vez mais restringir a independência quase milenar de Portugal.
É ingénuo pensar que estamos numa união em que aonde todos são tratados por iguais.
Bruno Caldeira
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