Como dizia a canção de João Mário Branco “mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, e hoje a mensagem sublime da Revolução dos Cravos não se pode desvanecer nas brumas do tempo.
Talvez a Revolução dos Cravos, a portuguesa, seja de todas as revoluções a mais romântica, parecendo mesmo que saiu de alguma produção de Holywood.
Várias cenas cómico-hilariantes foram realizadas pelos Capitães de Abril. Um exemplo disso foi quando uma columa de chaimites chegou à baixa de Lisboa vinda da Escola de Prática de Infantaria de Santarém (local do início da revolução dos cravos) parou perante um semáforo vermelho.
Esse lirismo bem português era bem demonstrativo como o espírito de Abril estava a ser construído.
Hoje, em pleno século XXI e olhando para os últimos 45 anos, devemos ter a plena consciência que a mensagem sublimar da revolução dos cravos não se pode perder.
Outro episódio muito marcante da passagem da ditadura para democracia foi a percepção política do momento, que algum acto mais radicalizado durante as operações dos dias 24 e 25 de Abril de 1974 poderia deitar tudo a perder.
Em plena Guerra Fria, medo que o comunismo chegasse a Portugal e à Europa ocidental e a precariedade de condições como foi feito a Revolução dos Cravos: jovens e inexperientes militares, munidos de algum material obsoleto, não permitia nenhum desvio extragavante ao rumo da revolução.
Mas no fundo, foi também posto em prova o carácter, a coragem e a perspicácia dos portugueses perante um momento histórico único.
O exílio para o Brasil de Marcelo Caetano, o último ditador e sucessor de Salazar no comando de um Portugal cinzentão e sem perspectivas de futuro, que foi tratado dignamente pelos Capitães de Abril até ao aeroporto de Lisboa, foi uma prova de maturidade do povo Português.
É claro que o fim da ditadura do Estado Novo influenciou em parte a transição democrática em Espanha. Mas a história de Espanha e a sua actualidade provam que seria impossível recriar o espírito romântico, mas também pragmático do 25 de Abril.
A exportabilidade da mensagem sublime da Revolução dos Cravos é uma necessidade dos povos do mundo que prezam a liberdade e o respeito.
Todavia, as novas vagas de pensamento ditas liberais, que apregoam o dogma da desregularização e que querem impôr alterações sociais radicais em prol do “santificado” mercado.
Por vezes, mudar de tempos é sinónimo de mudar de vontades é mesmo crucial para o desenvolvimento humano, que hoje é cada vez mais automatizado e estandartizado.
As bases dos direitos fundamentais devem ser preservadas e até melhoradas face às alterações da sociedade, sobretudo pelo avanço da tecnologia e da automatização do raciocinio.
O predominio da máquina no contexto da vida humana vai influenciar a relação entre os homens, e claro entre o homem e a máquina.
O que as relações humanas, incluindo a relação laboral, não se podem comparar com a finalidade que as máquinas oferecem aos humanos.
E aqui, o direito, que pode ser definido de forma muito simples e imperfeita como: a regulação da vida humana em sociedade, como sempre foi, e presentemente tem uma importância ainda maior deverá acompanhar os cambios da sociedade.
A tentação de acompanhar uma estética liberal pelo uso eloquente da ambição, que pode em muitos casos menosprezar os menos capazes da era tecnológica, será sem dúvida um voltar atrás aos tempos em que a liberdade e a democracia não faziam parte das nossas vidas.
A defesa dos direitos fundamentais são cruciais nos momentos em que a demogogia política começa a manietar uma sociedade acomodada a não raciocinar perante a nova realidade e dos falsos profetas da verdade.
Não se pode baixar a guarda quando alguns desses direitos fundamentais são cominados como: a liberdade, a igualdade, a solidariedade, a democracia, a universalidade.
Sem esses direitos fundamentais, a evolução tecnológica que assistimos não poderia surgir da forma como vemos actualmente.
Se o nacionalismo bacoco dominasse, a interacção multicultural não emanava o seu saber para a inovação tecnológica, e consequentemente, o desenvolvimento social e económico tinha mais dificuldade para progredir.
A nossa realidade contemporânea é um reflexo como a mensagem sublime da revolução dos cravos obviamente terá que resistir.
Bruno Caldeira
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