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Uma Verdadeira Mulher Ibérica

Carmen Diniz-Fragoso é uma verdadeira mulher ibérica. Filha de pai português e mãe sevilhana, desde cedo assimilou a cultura ibérica. E como uma grande mulher ibérica, a nível profissional está muito ligada na intermediação de negócios entre Espanha e Portugal.

Hoje, Carmen Diniz-Fragoso é a primeira mulher presidente da Casa de Espanha em Lisboa, uma instituição centenária.

Para esta mulher ibérica os principais objectivos do seu mandato são “recuperar a vocação de serviço ibérico, dar maior visibilidade aos associados, promover e colaborar em eventos culturais, desportivos e de integração social, maior cooperação entre as entidades que compõem a rede espanhola em Portugal“.

Pela primeira vez na sua história, a Casa de Espanha em Lisboa tem como Presidente uma mulher. Que sensações teve ao ser eleita Presidente desta centenária instituição?

Efetivamente, quando se falou na minha candidatura, uma das forças que me vieram à mente foi o facto de que, após mais de um século, existiam as condições para nomear uma mulher à frente de uma instituição que até este momento foi presidida por homens. Gostei da ideia, de poder abordar o trabalho desde uma perspetiva diferente, mas sempre a pensar no respeito a todo o trabalho feito anteriormente e que levou a Casa de España sempre adiante. Trata-se agora de poder oferecer uma visão diferente desde uma responsabilidade igualitária.

Procurei, para além de mim, rodear-me de profissionais que iriam, junto de todo o resto da direção facilitar o nosso trabalho com a sua visão.

Todavia, em pleno século XXI estes tipos de notícias deveriam ser normais. Isto é, que as mulheres podem ocupar qualquer tipo de cargo. O que ainda falta fazer para que a paridade entre mulheres e homens seja uma realidade?

Sim, já não deveríamos ter que assinalar este tipo de situações como excecionais, mas penso que, mesmo que já se tenha mudado muito a mentalidade, ainda continuamos a ter que fazer um esforço para conseguir essa paridade. Penso que uma educação de raiz, uma formação no equilíbrio de géneros poderia levar a que estas notícias fossem consideradas de “habituais”. Preocupou-me sempre a conciliação emprego – família na minha época profissional, e cuja falta de conciliação ainda nos impede uma dedicação mais livre e sem constrangimentos. Quanto ao resto de parâmetros, como a formação, inquietudes, ambição e vontade, podemos já falar numa perspetiva profissional de uma equivalência entre ambos sexos.

Como começou a sua relação com Espanha?

Costumo responder sempre que sou um verdadeiro “produto” ibérico. Filha de mãe espanhola (sevilhana!) e pai português, criada junto com os meus irmãos, entre o Alentejo e Madrid. E sempre orgulhosa de ter sido educada com o conhecimento e ambientes de ambos países. Durante a minha vida profissional desempenhei trabalho em España (Madrid e Corunha) bem como em Portugal.

Sou uma privilegiada na abordagem de ambas culturas pois esta base me permitiu um conhecimento mais aprofundado de ambas realidades, que embora outras opiniões igualmente respeitáveis, eu considero diferentes mais perfeitamente compatíveis.

A Casa de Espanha em Lisboa começou nos primeiros anos da sua existência a dar assistência aos espanhóis que tinham mais vulnerabilidade social e económica. Continua ainda com este propósito benéfico?

Os tempos mudam e se pelo termo “benéfico” podemos falar de apoios como informação e vocação de serviço, sim, continuamos com esse propósito. Não vem a nós, hoje em dia, quem tem uma necessidade de proteção social ou económica, pois hoje em dia existem já outras estruturas sociais de iniciativa dos Estados ou privadas com esse objetivo.

Existe sim, entre as instituições espanholas em Portugal a Sociedade Espanhola de Beneficência, uma instituição que no âmbito da área da saúde geriátrica, e há longos anos, recebe idosos com necessidades de assistência.

Esta instituição declara que facilita serviços de intermediação entre Portugal e Espanha para os seus associados. Como realiza essa intermediação?

Pretendemos junto dos nossos associados oferecer serviços profissionais em rede, para todos os interessados, particular, empresa o instituição que venha a precisar. Esses serviços podem ser fornecidos pelos nossos associados entrando em contactos com eles, ou podemos ser nós como instituição e através dos nossos contactos a oferecer essa ajuda. Para isso é necessária a adesão à Casa de Espanha em Lisboa para poder usufruir de este tipo de serviços.

Tratamos de fazer a “ponte” entre ambos países, utilizando também os nossos diversos eventos de networking que facilitem as relações entre os participantes.

Costumo responder sempre que sou um verdadeiro “produto” ibérico. Filha de mãe espanhola (sevilhana!) e pai português, criada junto com os meus irmãos, entre o Alentejo e Madrid. E sempre orgulhosa de ter sido educada com o conhecimento e ambientes de ambos países

Carmen- Diniz-Fragoso, Presidente da Casa de Espanha em Lisboa

O velho ditado diz que “a união faz a força”. Como é que a Casa de Espanha em Portugal promove a cooperação com outras organizações e empresas?

No campo profissional temos a vocação de querer oferecer um conjunto de serviços através da nossa relação com os associados, que no fim de contas podem com as suas empresas resolver as diferentes problemáticas

No âmbito cultural e social estamos a retomar as atividades que podem fazer sentido neste âmbito, com o desenvolvimento junto de instituições portuguesas e espanholas que trabalhem especificamente estas áreas.

Sabemos que o mercado ibérico continua a crescer. Mas que medidas podem ainda ser implementadas para que haja uma maior cooperação entre as empresas portuguesas e espanholas?

Importa ressaltar a regularidade já anual da Cimeira Ibérica, com o reconhecimento de essa relação bilateral que nos outorga o título de sócios estratégicos dentro da União Europeia. Têm-se obtido compromissos e resultados mais práticos, tendo um bom exemplo na abordagem aos custos provocados pela crise energética de ambos países.

Sinto que é necessária uma política conjunta mais efetiva para diversas áreas como políticas fiscais, sociais, de educação, Inovação e desenvolvimento, agrárias e industriais que tenham sentido na gestão e na produtividade de ambos países.

E como é a relação com as outras Casas de Espanha que estão um pouco por todo o mundo? Que benefícios isso traz para os seus associados?

Cada uma de elas tem um perfil diferente de acordo com a sua localização pelo que os serviços ou atividades são diferentes para cada uma.

É uma área a desenvolver pelo enriquecimento que as diferentes culturas nos podem oferecer, embora tenhamos que ter em consideração a idiossincrasia de cada pais em que se situam.

Para além das atividades de carácter empresarial e económico, esta instituição também promove a cultura. É importante dar a conhecer as culturas ibéricas para facilitar o conhecimento recíproco entre portugueses e espanhóis?

É uma questão essencial.

A destacar o facto de que ambos países são promotores de duas das línguas mais importantes no âmbito internacional. O espanhol ocupa o 2ª lugar por número de falantes nativos com mais de 400 milhões, e o português situa-se com mais de 200 milhões. Isto demonstra a importância da expansão das nossas culturas

Espanha criou o primeiro Centro educativo espanhol no exterior, o Instituto Español Giner de los Ríos em Oeiras (Lisboa) em 1932, e isso configura já o início da presença institucional do ensino da cultura e língua espanholas em Portugal, que já promoviam desde 1909 os emigrantes organizados em volta da Casa de España.

Tempo depois, em 1993, Espanha abriu um novo centro cultural, o Instituto Cervantes de Lisboa.

E não podemos esquecer o interesse recíproco em mostras culturais como arte (Feria ARCO em Lisboa), e nestes últimos anos pelo Fado e pelo Flamenco, o respeito a ambos através do reconhecimento pela UNESCO como património cultural imaterial da humanidade.

“A Cultura une os povos” é uma frase contundente e verdadeira. É aí que se ultrapassam as diferenças entre os povos, é aí que reside a riqueza. Assim, cada país aprende o respeito, porque a cultura é mesmo uma força que nos une.

Quais são os seus principais objetivos que pretende alcançar durante o seu mandato?

Após estes últimos dois anos que marcaram todo mundo, a equipa da direção da Casa de Espanha em Lisboa tem como objetivo recuperar a vocação de serviço ibérico dando uma maior visibilidade aos associados, promovendo e colaborando em eventos de integração com caracter cultural, desportivo e social, maior cooperação entre as entidades que integram a rede espanhola em Portugal.

Sermos capazes de facilitar a integração de espanhóis que venham viver a Portugal por razões pessoais ou profissionais, também faz parte dos nossos objetivos.

A Casa de Espanha em Lisboa já tem mais de 100 anos. Foi fundada em 1909. Na sua opinião qual foi o principal legado que esta histórica instituição deu à sociedade portuguesa?

Foi uma instituição pioneira no atendimento aos espanhóis considerados de emigrantes há um século, sendo um elo de ligação da colónia espanhola aqui residentes.

Com a mudança dos tempos foram mudando as necessidades e, em consequência, os serviços prestados pela Casa de Espanha, mas foi essa primeira iniciativa a que serviu de fundamento para a sua criação.

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