Depois de 36 anos de estar emigrado nos Estados Unidos, José Luís Andresson voltou em definitivo a Portugal para criar a sua desejada escola de golfe: Clube de Golfe de Penamacor.
A sua paixão pelo golfe entrou na sua vida por mero acaso quando ofereceram-lhe uns DVD sobre esta modalidade desportiva.
Agora em Penamacor está empreendendo e desenvolvendo esta actividade que em Portugal ainda é considerada elitista, dando oportunidade aos jovens da região praticarem golfe, e ser um meio de promoção do envelhecido município de Penamacor e da sua região.
Como o golfe entrou na sua vida?
O golfe entrou na minha vida em 2006, por mero acaso. Foi-me oferecido uns DVD para a aprendizagem de golf e pareceu-me interesante, e comecei imediatamente a treinar. Desde então nunca mais parei. Sempre gostei de fazer desporto em geral. Em jovem joguei futebol, e cheguei a treinar clubes nas comunidades portuguesas nos Estados Unidos. Também gosto de tenis, e jogo de vez quando é possível. Por isso, ter interessse por desporto não é novidade para mim. Sou bastante curioso e gosto de aprender. Mas nunca pensei ficar tão dedicado ao golfe.
O que mais gosta desta modalidade desportiva?
Como qualquer desporto, o golfe mantem-me activo, torna-me mais disciplinado. Mas não é só isso que me faz bem, são os próprios campos de golfe. Gosto de caminhar nos espaços verdes, estar consciente de mim com um sentido de paz, e na minha opinião é uma forma de meditação. É bom para o corpo e a minha mente. Também é um jogo que quando não estou a competir com outros, estou a competir comigo mesmo. Não é preciso de estar à espera de mais ninguém para ter um desafio.
Ainda hoje parte da sociedade olha para este desporto como elitista. Concorda?
Não, porque depende da cultura. Nos Estados Unidos, por exemplo, qualquer pessoa pode jogar golfe a preços acessíveis. Na Europa é diferente, principalmente em Portugal, já que se considera de elite. Eu gostava de jogar golfe com preços mais acessíveis.
Porém, é um deporto caro, principalmente no que diz respeito ao equipamento?
Se o equipamento for novo fica caro. Mas hoje muitos jogadores optam por material semi-usado que fica mais em conta.

Que conselhos pode dar para quem quer começar a jogar golfe?
É importante encontrar um clube perto da sua residência que tenha um professor qualificado de golfe e uma academia de treino. Esses são os primeiros passos, e depois treinar bastante. É melhor começar com pouco equipamento, e que seja economicamente acessível. Só depois de ter a certeza de que gosta deste desporto, então sim, comprar melhor equipamento. No meu caso não foi fácil, pois nunca tive aulas de golfe. Tudo o que sei foi com base em muita leitura e muitos vídeos, e depois pus em prática os meus conhecimentos teóricos. Eu preferi jogar em campos curtos, chamados de pitch and putt, durante os dois primeiros anos, e só depois comecei a jogar em campos mais compridos.
Para além das questões técnicas (como segurar o taco, como bate ruma bola), a questão psicológica também é muito importante quando estamos a competir. Como se trabalha a parte psicológica de um jogador?
A parte psicológica é a mais importante, porque o golfe requer muito treino. O golfe é fácil de aprender, mas jogado a um nível superior é um pouco complicado. É complicado no meu entendimento, porque cada campo tem diferentes graus de dificuldade: árvores, lagos, áreas com areia e grandes distâncias. No campo se não tiveres uma mente focada, podes desanimar. A ideia é ter muita calma para poderes desfrutar do jogo.
O maior objectivo do Clube de Golfe de Penamacor é dar oportunidade a todos para ter contacto com este desporto
José Luís Andresson
Por outro lado, o golfe é usado pelas empresas para fortalecer as relações profissionais e empresariais. De que modo o golfe é efectivo para dinamizar essas relações?
Numa volta a um campo de golfe demora aproximadamente 4 horas com poucas distrações. Dá tempo para falar de bons negócios. Os campos de golfe oferecem espectaculares espaços verdes, com clubes sociais e restaurantes, onde é habitual organizar vários tipos de eventos que encaixam bem com os objectivos de uma empresa, como seja o networking, team-building, promoção da marca, etc.
Viveu por mais de 30 anos nos Estados Unidos. Quais são as principais diferenças na prática do golfe em Portugal e nos Estados Unidos?
A maior diferença de jogar golfe nos Estados Unidos é tens a oportunidade de jogar com todos os escalões etários, e tratas todos por igual, não interessa a tua posição social. Já em portugal é mais elitista, com muita etiqueta e os preços são elevados, muito virados para o turismo. Nos Estados Unidos tem uma oferta mais variada, que acaba por abrir as portas a mais pessoas. Eu quero trazer esse conceito para Portugal. Que o golfe seja acessível para todos.

Regressou a Portugal para fundar o Golf Clube de Penamacor. Quais foram as razões que levaram a tal emprendimento?
Quando eu dei-me conta que este desporto podia ser para todos, eu decidi que quando voltasse para Portugal, todos aqueles que estivessem interessados no golfe podiam ter a sua oportunidade. Como tenho a minha casa no interior de Portugal, tem ainda mais importância, porque aqui nem sempre há tantas oportunidades para este tipo de empreendimento como há nas grandes cidades. Durante a pandemia consegui o que parecia impossível – organizar um torneio de golfe. Durante as minhas férias e com o apoio do Clube de Golfe de Belmonte (onde tenho raízes e amizades) organizei o Torneio de Golfe do Emigrante. Nessas semanas trabalhei com muitos jovens com a ambição de competir, mas por uma serie de razões, sobretudo os custos financeiros associados a este desporto tornava-se muito complicado. Nessa ocasião salientei a minha grande vontade de fazer que o golfe fosse para todos, principalmente os mais jovens. E quando falo para todos, refiro-me também aos jovens com necessidades especiais.
Através do golfe fiz muitas amizades nos Estados Unidos. Conheci um senhor só com a mão esquerda a tentar jogar. Fiquei emocianado com aquela vontade de aprender e jogar golfe independentemente da sua menos valia. Essa sua vontade, inspirou-me muito. Daí criamos uma grande amizade. Praticamente todos os domingos estavamos junto a jogar no nosso desporto favorito. Para mim o golfe é um desporto que se pode disfrutar de um espaço tranquilo, sendo fundamental para ultrapassar certos obstáculos. Sinto que é um desporto muito indicado para pessoas com necessidades especiais.
Quais são os principais objectivos do Clube de Golfe de Penamacor?
Os principais objectivos do Golf Clube de Penamacor é promover o golfe no distrito de Castelo Branco envolvendo a empresas e as câmaras municipais. Queremos fomentar parcerias com hotéis e tudo o que envolva o turismo. Mas o maior objectivo é dar oportunidade a todos para ter contacto com este desporto. Colaborações e os patrocinios são a chave para conseguir dar mais oferta a um melhor preço.
Penamacor e a Raia Portuguesa são muito caracterizados pelo despovoamento, têm uma população muito envelhecida e com muito pouca aptidão para o empreendorismo. Como é que o Clube de Golfe de Penamacor pode ajudar no desenvolvimento local?
Ao iniciar este clube sabiamos a partida que não seria fácil fazer algo neste municipio, mas com persistencia conseguimos constituir o clube. E em muito pouco tempo consegui suscitar interesse. Por exemplo, uma escola no distrito de Castelo Branco está a pensar em incluir o golfe como disciplina de desporto nas suas actividades. Essa vontade é muito positiva, já que é uma grande marca para mim, por que está a encaixar exactamente no objectivo de levar o golfe a todos. E é nas escolas e com os jovens que se cria uma cultura, neste caso uma cultura de golfe. Já visitaram-me criancas que moram no municipio de Penamacor à procura de instrução. São poucos mas têm uma imensa vontade de aprender algo novo. Por eles já vale a pena trabalhar neste projecto. E como quero que este desporto seja mesmo para todos, também quero que inclua as crianças com menos valia motora, autismo e outras necessidades especiais. E já agora, o golfe também pode e deve fazer parte da vida das pessoas seniores do distrito.
Além de promover o golfe na região, também é importante gerir interesse nos nossos vizinhos espanhóis. É importante aproveitar a nossa ligação a Espanha e trazer jogadores para o nosso municipio. Gosto de jogar em Espanha, e sinto que há interesse. Estou a trabalhar nessas relações com os nossos vizinhos espanhóis. Também jogo noutras regiões de Portugal para levar o nome de Penamcor mais longe. Temos de fortalecer o distrito, e ao mesmo tempo fazer com que nos venham visitar. A ideia é criar eventos que tragam toda essa cultura do golfe para o distrito. Eu acredito que há condições para fazer em conjunto com as empresas locais e outras instituições. O golfe tem a capacidade de juntar mundos. Por exemplo, eventos de golfe ligados com eventos de gastronomia e vinhos.
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