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Entre a Guerra e a Paz

Aproxima-se o primeiro ano da Guerra na Ucrânia, e a esperança de uma resolução para este conflito militar entre russos e ucranianos é apenas uma miragem. Estamos entre a Guerra e a Paz.

A Conferência de Segurança de Munique vem reforçar que para a Europa, a única forma de resolver a agressão militar da Rússia à Ucrânia será sempre pela via militar.

E no decurso desta guerra verificamos que o mito do poderoso exército de Putin era hegemónico e que a tomada da Ucrânia seria uma questão de dias se desmoronou por completo.

Em resumo, o fracasso da intervenção militar russa na Ucrânia deve-se basicamente a 2 factores: escassa robustez político-militar russa e a grande resiliência do povo ucraniano. Aliás, essa tenacidade vai valer-lhe a confirmação pela comunidade internacional da sua soberania.

A partir de agora a Rússia de Putin ou qualquer outra Rússia já não pode justificar-se com os seus vínculos históricos e culturais com a Ucrânia para justificar (de forma racional) a sua anexação. Esta é a evidência maior do fracasso político de Putin nesta questão.

Todavia, ao contrário da Ucrânia que sabe o que quer, a sua independência, a Europa encontra-se numa grande encruzilhada de segurança, geopolítica e geoeconómica devido a esta guerra, ou seja estar entre a Guerra e a Paz.

Há que definir as limitações e as influências entre os dois blocos (União Europeia e Rússia), para que essa relação encaminhe para um ponto de equilíbrio em termos geopolíticos

Bruno Caldeira

Os dirigentes europeus (União Europeia e as grandes potências europeias) só vislumbram a resolução deste conflito pela via militar.

Do ponto de vista da justiça essa interpretação pode ser aceitável. Porém, observada do prisma do pragmatismo da “realpolitik e até mesmo do futuro da própria Europa é algo discutível.

Discutível porque:

1 – A Rússia considera a Ucrânia como parte do seu “espaço vital”. Perder a “face” nesta guerra teria graves consequências a nível social e político para esta potência nuclear.

2-  Aparentemente o regime de Putin está muito resiliente a nível interno, apesar da falta de eficácia do seu exército, que de certa forma está resultando no seu desprestígio aos olhos do mundo.

3 – Se por um lado muitos dirigentes políticos europeus como é o caso de Josep Borrell, alto representante da União Europeia para os Assuntos Exteriores e Política de Segurança e vice-presidente da Comissão Europeia  quer a queda de Putin, o busilis da questão é que já não vivemos com as dinâmicas da Guerra Fria, e em outras latitudes do mundo há quem aposte pela continuidade de Putin.

4 – A forte tensão entre os Estados Unidos e a China não ajudam a frenar o que está acontecendo na Ucrânia. Pois estes acontecimentos estão formando um complexo “bolo geopolítico” que têm como ingredientes a guerra económica Sino-Americano, Taiwan e agora uns balões aparentemente espiões.

5 – Com as restrições das exportações do gás (barato) russo à Europa, tem como consequência a perda de alguma competitividade de alguns países europeus, com a Alemanha à “cabeça”, que tem uma importância primordial a nível económico para os seus sócios europeus.

6 – A pressão de um substancial aumento da despesa militar europeia vai alterar parcialmente as prioridades sociais dos países europeus. É o clássico exemplo de “manteiga versus armas”.

A Encruzilhada Europeia

A Guerra da Ucrânia não parece ser um mero episódio da História da Europa.

Se houver uma tempestade perfeita, o papel geoeconómico da Europa (já que o geopolítico é muito débil) estará em causa. E é curioso que várias ex-colónias das antigas potências começam a ultrapassar em definitivo a sua antiga metrópole. São os casos do México com Espanha ou da Índia com o Reino Unido.

Estar apostar apenas na força das armas é deveras perigoso. O seu consequente impacto económico terá sequelas na vida dos cidadãos europeus, que poderá diminuir drasticamente o apoio social dos europeus à causa ucraniana.

A questão fundamental para resolver este conflito será definir claramente uma nova relação política entre a Europa e a Rússia. E que obviamente jamais poderá ser a mesma que existia anteriormente ao início da Guerra da Ucrânia. 

Há que definir as limitações e as influências entre os dois blocos, para que essa relação encaminhe para um ponto de equilíbrio em termos geopolíticos.

Bruno Caldeira

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