É um paradoxo verificar as declarações de amor à língua portuguesa pelos seus decisores políticos e a sua quase completa inacção em promover a Lusofonia à escala mundial, a Lusofonia Global.
Ao contrário de outros blocos geopolíticos e até linguísticos, a Lusofonia está dispersa nos 4 cantos do mundo.
A língua portuguesa é falada por quase 300 milhões de pessoas, sendo a 6ª mais falada no mundo, e a mais falada no hemisfério sul, deveriam ser motivos mais que evidentes para a posicioná-la no mundo.
Se há blocos geopolíticos como é o caso da União Europeia cujo o seu grande objectivo é a estabilização, a segurança, a paz e o desenvolvimento social entre os seus Estados-membros, o bloco da Lusofonia deve por sua vez pensar global, deve assumir na sua plenitude como uma Lusofonia Global.
Antes de analizar as razões porquê a Lusofonia deve ser global, há que esclarecer no meu ponto de vista o conceito de Lusofonia.
O conceito de Lusofonia não deve envolver somente a questão linguística. Sou daqueles que creem na totalidade que a minha pátria é a língua portuguesa. Essa pátria global deve estar fundada em sentimentos e no espírito sincero da interajuda, mas também no pragmatismo de querer que a Lusofonia tenha um papel relevante na actualidade internacional.
Antes de mais, a língua portuguesa deve saber conviver com as demais grandes línguas do mundo como o mandarim, hindi, árabe, inglês, espanhol ou o francês.
É utópico hiperbolizar a dimensão dos falantes da língua portuguesa em relação às demais línguas, pois o cerne da questão é saber maximizar a importância da nossa língua no mundo e nos seus países de origem.
Infelizmente o Portugal Democrático, o Portugal da Descolonização, o Portugal do pós 25 de Abril de 1974 quis mudar de rumo para algo que raramente foi: europeu.
Com a adesão de Portugal em 1986 à então Comunidade Económica Europeia (CEE), quis romper com uma história de mais de 500 anos. Uma história global e plena de aventuras. Foi um erro crasso.
Há várias décadas temos assistido a uma política externa errante e sem sentido, se atendermos à essência do povo português. E a decadência demográfica de Portugal e da Europa comprova essa insensatez estratégica.
O desenvolvimento de uma verdadeira e eficiente Comunidade Lusófona só beneficiará a projecção de cada Estado-membro dentro da sua área geográfica, e também no seio das suas suas organizações internacionais.
O Brasil tem que fazer-se sentir aos seus sócios do Mercosul e da América Latina, que não tem apenas a sua dimensão geográfica e populacional, mas também de toda uma Lusofonia atrás de si.
Portugal deve ter também o mesmo raciocínio dentro da União Europeia, quando o contexto político não é o mais favorável.
Também Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe podem valer a sua dimensão lusófona na sua relação com a União Africana e com as outras organizações regionais africanas.
Por fim, também Timor-Leste que em breve (espera-se) entrará para a ASEAN pode valer-se da sua irmandade lusófona, para que não seja vista como a mais pequena nação desta organização internacional que representa mais de 600 milhões de pessoas.
Por estas razões a Lusofonia, não pode ser uma hesitante Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), pois na sua essência representa um conceito global.
Mas para alterar a forma de pensar da CPLP, temos que reiniciar uma nova epopeia dos Descobrimentos, agora dos Descobrimentos da Lusofonia Global.
Bruno Caldeira
Por uma verdadeira Comunidade Lusófona
O precedente da Guiné-Equatorial que entrou na CPLP não por razões linguísticas (apesar da língua portuguesa ser a língua oficial deste país africano, todavia a sua população não fala este idioma), as razões históricas são muito ténues, mas os motivos económicos falaram por sua vez mais alto.
Quero agora viajar para o Oriente. E até podemos aterrar no Bairro Português de Malaca.
Esta comunidade luso-descendente até pode não expressar-se bem em português, a língua dos seus antepassados, mas a sua crença de se considerarem portugueses, apesar do afastamento do Estado português merece obviamente o nosso grande respeito.
É necessário “ resgatar” todas essas comunidades luso-descendentes. E não é apenas pelo valor da justiça e do respeito, mas também pelo “soft power” que desempenham nos seus países.
Há que criar o “grande jogo da Lusofonia”. De involver os países do Oriente que tiveram a influência portuguesa. E estamos, por exemplo, a falar de Omã, Bahrein, Kuwait, Iraque, Irão, Índia, Sri Lanka, Tailândia, Malásia, Indonésia e Japão. E continuar a desenvolver relações com a China através de Macau.
Mas para alterar a forma de pensar da CPLP, temos que reiniciar uma nova epopeia dos Descobrimentos, agora dos Descobrimentos da Lusofonia Global.
Bruno Caldeira
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